Dicendi

10/10/08

ESTADO DE SÍTIO

Não fiquei surpreendido, quando as rádios e as televisões lançaram no ar o assalto ao BES. Afinal, estas situações têm tido o seu lugar-comum, nos nossos dias… em Portugal… sim… em Portugal. Para além dos crimes passionais, aqueles crimes que não conseguimos prever, porque nunca sabemos quando é que um filho quer matar a mãe, nem quando é que um pai e uma mãe se vão lembrar de deixar os seus filhos, crianças, sozinhos em casa, para se deliciarem com os amigos à mesa de jantar, num restaurante qualquer, sem chatices, mesmo que achem que os conseguem ver através das paredes a uma distância de 100 metros. Maddie? Não! Muitas mais… essa foi apenas uma situação que acabou da pior maneira.

No caso do assalto ao BES achei o desfecho o mais correcto… o único viável… dadas as circunstâncias adjacentes. Nós, portugueses, temos sempre aquela tendência para criticar… tipo treinadores de bancada. Somos tacticamente correctos, mesmo não dominando o assunto. Já ouvi e li críticas tecidas à actuação da polícia neste caso, por ter atirado a matar ou, como se diz na instituição, atirar para “neutralizar”. Se fosse ao contrário iria ler com certeza, críticas porque os sequestradores mataram os reféns e a polícia nada fez para os demover, agora que até temos uma tropa de elite muitíssimo bem treinada… diriam que as negociações não tinham sido bem conduzidas ou porque a polícia não atirou a matar… a neutralizar.

Tenho a certeza de que cada um de nós, no lugar dos reféns ou no lugar dos seus familiares quereríamos ver os sequestradores abatidos. Infelizmente a segurança compra-se… paga-se. Terão os bancos dinheiro para isso? Saberão eles quanto vale a vida humana? Ao ponto de a deixar correr riscos… e então os bancos que são tão hábeis a fazer cálculos, quando envolvem riscos… de outra natureza.

Não me interessa se são brasileiros, portugueses ou de Leste. A fraqueza humana não escolhe nacionalidades, mas num país onde toda a gente desembarca de mar, terra e ar, com vistos de três meses e acaba por se esquecer de regressar à proveniência admito que é preciso coragem para se assaltar um banco. Para além disso, os sequestradores estavam ilegalmente em Portugal, mas trabalhavam. Como as leis estão sempre em mudança, provavelmente já se pode empregar pessoas sem estarem devidamente legalizadas no país que as acolhe, e… se calhar, a descontar para a Segurança Social. Somos assim… boas pessoas. Gostamos de pagar na mesma moeda, quando nos lembramos de outros tempos. Sou contra a violência, sou a favor do diálogo, mas se temos tão poucos registos de sequestros em Portugal e agimos tão eficazmente, só me resta deixar aqui um alerta: Antes de assaltarem um banco ou sequestrar alguém, pensem duas vezes antes de o fazer. É que podem ser bem recebidos… pela polícia.
posted by Henrique at 15:21

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