Dicendi

01/01/09

COMO NASCEU O MEU PRIMEIRO LIVRO

Numa viagem de comboio, João conhece Luísa, por quem se apaixona mais tarde. Luísa vive um casamento difícil com António, homem de uma personalidade forte e que não olha a meios para atingir os fins. Quando Luísa consegue o divórcio tenta a sua aproximação a João, agora casado. Uma doença grave põe termo ao casamento de João, que fica só, com os seus dois filhos, Tiago e Marta. João, jornalista de profissão aceita uma proposta para ir para os EUA. Luísa sabendo desta viagem tenta a todo o custo conquistar e reviver um amor antigo. Será isso possível?

Como sempre, o mês de Dezembro lembra-nos o natal, a época festiva que preenche de cor e adorna as ruas das mais variadas formas. João tinha saído mais cedo do emprego. Era jornalista numa estação de televisão. Com a lista das compras na mão, João procurava a todo o custo esticar o tempo e o dinheiro. Entrou numa loja do Chiado. O Chiado é uma zona da baixa lisboeta onde uma vez, um senhor de nome Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem chamaram Marquês de Pombal, delineou parte da cidade após um terramoto no ano de 1755. Séculos mais tarde, um incêndio de grandes proporções deflagrou novamente aquela parte da cidade. A construção voltou a pôr de pé as fachadas dos edifícios. Novos espaços foram criados, a vida regressou às ruas, com lojas, esplanadas e todo o tipo de comércio. João puxou da lista e percorreu-a de alto a baixo, comprou o que achou melhor e mais adequado.Eram 16H00 e João dirigiu-se para a estação de comboios do Rossio; carregado de sacos e embrulhos, João tinha de ir a casa. Morava em Sintra, uma vila de património mundial. Durante o século XIX Sintra exerceu uma influência considerável sobre o desenvolvimento da arquitectura romântica europeia, de palácios e parques; de casas senhoriais, com os seus jardins e bosques; de palacetes e chalets envoltos numa vegetação exuberante. Era aí que João morava.Tinha prometido ir passar o natal à terra dos pais, havia anos que isso não acontecia, por isso, a ansiedade era uma constante, tal como rever a avó de 85 anos, a avó Ezilda. João saiu de casa por volta das 17H30, tinha decidido jantar num desses restaurantes de comida rápida. O comboio tinha hora marcada para as 20H00, a viagem demoraria mais ou menos quatro horas, contando com as paragens obrigatórias. Quando João chegou à estação, dirigiu-se a um dos pequenos restaurantes que servem os passageiros em trânsito. Sentou-se numa mesa ao canto da sala. Num gesto rápido fez sinal a um empregado.
- Queria algo que fosse rápido – disse.
- Aqui tudo é rápido, ninguém perde o comboio – brincou o empregado.
Duas mesas à frente; uma mulher loura, na casa dos trinta anos falava ao telefone. A conversa não parecia agradável, gesticulava furiosamente, olhando para um lado e para o outro, como se suspeitasse que alguém a escutava.João acabou de comer rapidamente, ainda faltavam duas horas para a partida e tinha ainda de ir comprar o bilhete. João levantou-se e dirigiu-se para a porta, quando de repente, sentiu um toque no ombro. Era a mulher do telefone.
- O senhor esqueceu-se do seu saco – disse ela com um leve sorriso nos lábios.
- Muito obrigado. São as minhas prendas de natal. Tenho a certeza que seria fuzilado se chegasse sem elas – disse João retribuindo o sorriso.
- Posso perguntar-lhe para onde vai?
- Claro. Vou para Celorico da Beira. Tenho ainda de ir comprar o bilhete.
- Eu vou no mesmo comboio. Fico duas estações antes da sua – disse ela. (continua)
posted by Henrique at 00:04

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