Dicendi

08/06/09

ONDE PÁRA A SENSIBILIDADE?

Tantas, mas já foram tantas as vezes, que me deparei com este obstáculo, que teima em perseguir-me. A dificuldade em perceber o que move os outros, quando deixam resvalar a capa que os esconde. Confesso que por vezes sinto-me perdido na minha ignorância, tento relegá-la para segundo plano, não lhe dando a importância que pretende, mas é com uma misantropia extrema que não a consigo dissociar. Gosto de perceber… pelo menos tentar. Muitas vezes sinto-me ignorado e incompreendido, mesmo sabendo eu o potencial das minhas capacidades, o limite da minha inteligência, vejo-me obrigado a ficar calado, para não me sentir humilhado, melhor… para que não deixe que o consigam. Faço parte daquelas pessoas (espero que seja um grupo pequeno… espero mesmo) que os outros acham, que somos limitados intelectualmente e, ou que não temos capacidade para os acompanhar na sua inteligência e ambição (é verdade… esta malta existe). Conheço algumas pessoas (até já tenho medo que isto seja alguma epidemia), que quando se encontram, só falam da vida dos outros, chupando-os até ao osso, depois de lhes terem devorado a carne até ao último tendão. Convidam essas pessoas para jantar em sua casa, para mais tarde terem matéria crime para debater, em circuito fechado. Falam de negócios, estratégias empresariais, parcerias (é hilariante observar). Às vezes somos quatro sentados na mesa do restaurante, sim… somos quatro, mas só falam três, o outro sou eu (o limitado intelectualmente) que normalmente me atavio em casa de literatura vasta, previamente escolhida. A parte mais engraçada é que quando tentamos inserir-nos nos temas ou na conversa, somos ignorados (a tal falta de intelecto), mas se tentarmos apanhar um dos três, que se encontram sentados, disponível, para falarmos de outra coisa qualquer, somos alvos de uma atenção quase talhada à altura da Mossad ou do MI6. Obviamente para sermos logo bombardeados com sobranceria ou desprezo altivo (dá-me vontade de rir nestas alturas). Como os conheço bem (julgo eu) e conheço as suas raízes e proveniências fico pasmado com a falta de visão (como a sensibilidade não existe) para se verem ao espelho. Tenho o maior respeito por todos aqueles que vierem das suas terras, que através de sacrifícios, mandaram calar a pobreza, a futilidade e que hoje são pessoas bem sucedidas, porque sabem de onde vieram e como chegaram. Os outros, aqueles que vieram dos mesmos locais e que subiram na vida (este subir é subjectivo) à custa de estarem bem “encostados” ou de terem apoios quando abrem a boca, bem, para esses, vai o meu sorriso, oculto, acompanhado de uma fotografia cerebral. A parte mais hilariante de tudo isto, é que os que me julgam limitado (têm as suas razões) desconhecem o que escrevo, este meu lado oculto, que guardo para mim e partilho convosco, que não vos conheço. Uma das vantagens de gostarmos de escrever, bem ou mal, é a de podermos passar para uma folha de papel aquilo que os outros (os que me limitam) vão levar uma vida inteira para aprender a fazer. Se calhar, se lessem o que escrevo, do que sou capaz, poder-se-iam sentir melindrados, ou não... às vezes ainda se agigantam mais (deixem-nos estar assim, confiantes de si próprios). Por isso meus amigos, gosto muito de estar ao meu lado e falar comigo próprio, analisando sempre até onde vai a sensibilidade dos outros, porque a minha sei onde pára, mas isso só está ao alcance de poucos, dos que se deixam limitar para não ferir susceptibilidades e não cortar as pernas aos que ainda vão levar tanta pancada pela vida que vão ter pela frente. A foto que escolhi não foi por acaso, é que às vezes podíamos aprender com eles.
posted by Henrique at 15:32

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