Dicendi

16/04/09

DACHAU – Campo de Concentração


Tive muito recentemente, a possibilidade de visitar, na Alemanha, o campo de concentração em Dachau, nos subúrbios de Munique. A sensação que se apodera de nós, quando transpomos os portões é algo de indescritível. A cada passo, a cada metro percorrido, o tempo parece voltar para trás.

Documentei-me e preparei-me para o impacto. Em muitos documentos que encontrei descobri que o projecto deste campo de concentração serviu de base para outros que se seguiram. Dachau chegou a abrigar mais de duzentos mil prisioneiros de mais de trinta países e, a partir de 1941, foi usado para o extermínio de cerca de trinta mil pessoas.

Em 29 de Abril de 1945, a 42ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, com o nome Rainbow foi encarregada de libertar o campo de concentração. A partir de 1948, o campo de Dachau foi usado como campo de refugiados, situação que perdurou até cerca da década de 60, onde se erigiu o Memorial que hoje existe. Dachau é célebre não só por ter sido um dos maiores campos de concentração nazis, mas também por ter sido o primeiro a ser construído no regime hitleriano. 

Tem uma câmara de gás, apesar de constar que nunca foi usada, facto que não acredito, pelo que consta nas inscrições à entrada da câmara:

“This is where the victims were to leave their clothes before entering the gas chamber disguised as “showers”. Their clothing was to be brought to the disinfecting chambers before the next group could enter the room” - Aqui era onde as vítimas deixavam as suas roupas antes de entrarem na Câmara de gás, disfarçada de chuveiros. As suas roupas eram levadas para a câmara de desinfestação antes do próximo grupo entrar.

“This is where the victims were to be informed on using the supposed showers” - Aqui era onde as vítimas eram informadas sobre a utilização dos supostos chuveiros.

“This is where the dead were to be brought before they were cremated“ - Aqui era para onde os mortos eram trazidos antes de serem cremados.

Penso que estas frases não nos deixam dúvidas quanto à utilização da câmara de gás. Numa outra ala do campo de concentração situa-se o Crematório. Nunca fiquei tanto tempo a olhar para um simples forno. Todas as imagens que passaram na minha cabeça terminavam ali, reduzidas a cinzas. Os inocentes, os que fugiam à espécie, os que fisicamente não correspondiam aos parâmetros arianos, todos acabavam naquele lugar.

Recuso-me a aceitar a humanidade desta forma. Nos dias de hoje mantêm-se as marcas que o tempo ousou em não apagar, os cravos criteriosamente colocados na pedra da camarata n.º 21 são a prova de quem viveu ou conheceu alguém que passou por aquelas paredes. O que um semelhante pode e consegue fazer a outro é realmente espantoso. Ainda bem que estes lugares não foram apagados da história. Louvo a atitude da Alemanha em manter vivos e acessíveis todos estes locais, para que possamos ter tempo, para pensar e repensar o valor que tem a vida de um homem, de uma mulher… de uma criança.

Entrar num campo de concentração, não é como entrar em Alcatraz (São Francisco - Califórnia) e observar as celas onde estiveram alojados alguns dos maiores criminosos norte-americanos, como Al Capone, Robert Franklin Stroud.

Entrar num campo de concentração é tentar descobrir o porquê de ter de morrer à fome, queimado ou nas câmaras de gás, só por ter nascido de forma diferente, com olhos de outra cor, com ideologias diferentes ou mesmo até, por antipatia mas… atenção… estamos no Sec. XXI e ainda temos disso… infelizmente.
posted by Henrique at 23:30

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