Dicendi

01/08/09

A ARTE DE SER PORTUGUÊS

Num país pequeno e com uma alma tão grande, custa-me, de certa forma, o exagero patriótico que se vive em volta da selecção nacional de futebol. Não que a nossa selecção o não mereça, mas por saber que este acto não é mais do que um momento.

Durará enquanto a equipa de todos nós se mantiver em terras suíças, enquanto as vitórias nos forem embalando em cânticos e deslocações ao Marquês de Pombal. Aposta-se no patriotismo de uma forma comercial, onde em cada janela deverá ser colocada uma bandeira de Portugal.

E para quem ainda não o fez pode sempre deslocar-se a um supermercado e adquiri-la, sim, porque a bandeira portuguesa também se vende em supermercados ou na rua, a preços asiáticos. Há sempre uma altura na nossa vida em que nos orgulhamos de ser portugueses, mas esse orgulho deve ser administrado desde as raízes. Deverá ser uma questão de base. Para onde foram as bandeiras de Portugal que existiam em cada sala de aulas? Será que o hino nacional ainda é administrado na docência?

Reconheço que os tempos são outros, mas tenho a certeza que cada um de nós já sentiu uma vez na vida, pelo menos uma vez, o orgulho de ser português. Parece-me que o saudosismo nacional ou patriótico ataca mais quem emigra, quem chega até ao nosso país através de uma televisão ou internet.

Há que mudar esta tendência, não precisamos de ser americanos ou ingleses para valorizarmos o país que nos viu nascer, basta que o sintamos cá dentro. Não sou monárquico nem nacionalista. Sou português. Temos capacidade para ir longe, mesmo se quem nos governa, independentemente da cor partidária, considere que a ajuda externa seja essencial. Se antigamente os recursos existiam, hoje também têm que existir. Não me parece que a população tenha crescido tanto nos últimos 30 ou 40 anos.

De repente demos um salto tecnológico, tudo nos foi colocado na mão de uma forma facilitada, à semelhança dos países muito mais à frente do que nós. O problema? É que pintámos primeiro o carro sem lhe dar a base. O resto depois não agarrou, não soubemos fazer o trabalho de casa. Está na hora de continuarmos a vontade e a dedicação de um povo que desde o início lutou e conseguiu erguer-se como Nação.

Nada se constrói com facilidade, mas tudo se concretiza quando temos vontade, optimismo e sobretudo a consciência de sermos portugueses. Portugal não é a selecção de futebol, Portugal é muito mais do que isso.
posted by Henrique at 18:30

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