Dicendi

27/09/09

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA

O que nos move? Enquanto pessoas, seres humanos, que ainda somos. O que faz com que sejamos tão diferentes? Quando podemos ser tão iguais. Vendemo-nos a qualquer preço? Não! Não concordo, admito que não. Há umas semanas que o jantar me tem vindo a cair mal, naqueles dias em que, quando me colocam à frente dos olhos, um programa ou concurso em que há uma personagem caricata, que se encontra, supostamente, ligada por fios e cabos a um polígrafo.

Prefiro chamar àquilo um concurso, porque me parece que se ganha dinheiro, por cada resposta dada, neste caso, por cada resposta confirmada entre o que pensamos e sentimos, na realidade. Mas até aqui, tudo bem, tudo me parece normal, mas o teor das perguntas é que são do mais ridículo que possamos imaginar. A começar pela apresentadora, Teresa Guilherme, que sempre teve tendência para perguntas cujo melindre possam fazer abanar as massas, desfraldando assim a vida alheia. Não sei quem faz o quê, nem tão pouco se o script a seguir é estereotipado com base num inquérito, previamente feito pelos condenados à cadeira eléctrica. Sei é que, quem nela se senta, sabe os riscos que corre, mas não se importa, se isso colocar em risco a sua vida familiar ou profissional.

O que conta é mesmo o “pingar” da moeda, à medida que se pula e avança de casa em casa, até à meta final.
Os tempos são outros, eu sei, faço parte deles. Há uma maior abertura, mas o que me preocupa é não conseguirmos diferenciar, já, o razoável do supostamente estúpido. A exposição pública é enorme, não importa! Venha de lá o dinheirinho, porque o resto se há-de resolver, a troco de dinheiro. Assisti a dois concursos desses e chegou.

Mas depois, para mal dos meus pecados, no dia seguinte à sentença de morte ainda levamos com o déjà vu do concurso anterior. Um painel de ilustres comentadores analisam e comentam ao mais ínfimo pormenor as respostas dadas pelos sentenciados (acho que é a única pena de morte que poderá ser lucrativa para o condenado, em caso de sucesso pessoal). Falam como se fossem ou fizessem parte do seio familiar, chegando até a colocarem-se no lugar do morto. Simplesmente hilariante.

Não sei se a máquina é credível. Talvez seja… ou não. Mas se assim for, porque não a empregamos em casos “verdadeiramente” mais importantes, em que um suposto réu se continua a bater pela sua inocência ou quando existem indícios, mas não se encontram provas que determinem a culpabilidade de um indivíduo e que se vê em liberdade em três tempos.


Pois, parece que a nossa legislação não permite, neste caso, o recurso do polígrafo nos tribunais. Venham então daí os concursos, porque o que a malta quer mesmo saber é se o condenado enganar o cônjuge, vai ter coragem de lhe dizer, ou se é verdade que ainda guarda rancor ao pai, mãe e filho por estes lhe terem partido um carro novinho em folha.


Já estou à espera do próximo concurso. Qual será, desta vez? O kamasutra praticado por concorrentes? Em que cada casal ganha umas coroas pelas posições mais rapidamente conseguidas? Ok. Cá estaremos para aplaudir, de olho arregalado e com meio Portugal a assistir... em directo.
posted by Henrique at 17:24

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