Dicendi
27/10/09
BEM RECEBER... É AMAR (também)
A arte de bem receber é outra forma de amor. Vou-me sentindo cada vez mais rico, em valores, não os que julgam… Não! Esses, os materiais são irrelevantes, quando outros valores nos fazem sentir amados, compreendidos e parte comum de quem, aos nos receber como sendo um dos seus, nada nos pede em troca.
O mundo deveria ser assim, deveria seguir estes exemplos e doutriná-los. À semelhança de uma família, que se senta à mesa e partilha o amor, que divide uma fatia de pão e que faz da partilha de princípios e costumes a sua forma inata de estar na vida, também todos aqueles, que sentem dificuldade em olhar o seu semelhante, como alguém que um dia lhes estenderá as mãos, numa dádiva sem precedentes, deviam seguir este exemplo, tão nobre... porque afinal existe.
Olhem ao vosso redor. O que vêem? O que sentem? Se ao olharem para o lado, para a frente ou… em todas as direcções e conseguirem respirar fundo, então sejam bem-vindos. É porque sentem o mesmo do que eu. Para Sr. António e Sra. D. Severa deixo aqui uma palavra, de elevado agradecimento. A humildade rara, a alegria e espontaneidade sempre constantes. Agora percebo a base, vejo a raiz, a fonte que trouxe à luz do dia uma mulher, também ela fora de comum... Cristina.
Não desistam… nunca, de ser assim. Que a vida seja longa, já que eterna não pode ser, para que eu vos possa sempre dizer o quanto gosto de vocês.
Bem Hajam.
posted by Henrique at 18:30

24/10/09
O EFECTIVAMENTE
O Efectivamente era um homem revoltado com a vida, com o seu clube do coração com a mulher, os filhos… enfim, com toda a gente. Até o cão de vez em quando arrecadava umas lambadas.
Desgraçada, a sua mulher, não conseguia conter as lágrimas da porrada que lhe caía em cima, era já um hábito antigo, efectivamente, não se sabia se chorava com gosto ou com dor. Efectivamente trabalhava como pasteleiro, num café local, daqueles cafés tipicamente portugueses, ensebadas as mesas dos mais variados tipos de gordura, animal. Não faltavam as mesas em pedra mármore, rachadas, que se cobriam com umas toalhas de plástico, aos quadrados brancos e vermelhos. Era o que se chamava lá naquela localidade, um pasteleiro avant garde.Só trabalhava por encomenda. Tudo o que fossem pedidos a partir de meia dúzia de pastéis de nata obrigava a um pagamento adiantado para a compra do material, efectivamente.
Efectivamente trabalhava com astúcia e habilidade. Uma pirâmide de chocolate era uma obra de arte nas mãos daquele homem, as suas unhas permaneciam durante largos dias, decoradas com adornos achocolatados.
Desgraçada era dona de casa. O seu trabalho consistia em ver as Tardes da Júlia, novelas em português abrasileirado e tinha como passatempo mudar constantemente a antena de posição. Não vale a pena falar dos filhos, nem do cão. Estudavam todos juntos numa escola primária, menos o cão, efectivamente. Esse andava desalmadamente à procura de uma cadela enresinada. Na falta desse encontro, entretinha-se a esfolar gatos e a oxidar jantes de automóveis.
Os filhos eram alunos dedicados. Gostavam tanto da escola e de estudar, que mantinham-se consecutivamente há 5 anos na 4.ª classe. Os pais diziam que um dia ainda haveriam de ser doutores, dada a dedicação aos estudos.
Efectivamente e Desgraçada continuam ainda, nos dias de hoje, a manter a mesma performance, unidos no amor, na amizade e no arrear de pancadaria. Não conseguem viver sem este último.
Esta foi apenas uma pequena história, efectivamente, de duas pessoas, semelhantes a tantas, que nos vão entrando pelas páginas dos jornais, às vezes com contornos de faca e alguidar.
posted by Henrique at 21:13

22/10/09
O VOO DO FÉNIX
Diziam os egípcios e os gregos, que o Fénix era uma ave, constituída de fogo e que vivia por vários séculos. No fim da sua existência, o grande pássaro queimava-se numa pira de ervas mágicas, e logo depois, renascia das próprias cinzas, sendo então considerado um ser eterno. Essa propriedade mística tornou-o símbolo da imortalidade da alma e também dos anos.
Acreditem que não tenho essas características, de me imolar e renascer dos restos… do que me sobra. Mas temos algumas semelhanças. Essas semelhanças são apenas, repito, apenas, a capacidade de endireitar a coluna vertebral e nascer, de novo, para o desafio que é a vida. A minha vida.
Todos temos direito à felicidade, ao podermos sentir, que um sorriso nos percorre a alma, o espírito e nos dá vontade de acreditar, que a felicidade está ao virar da esquina.
Apostei forte, acreditei e… falhei na prossecução dos objectivos. Porque tinha de ser assim, porque me estava destinado esse desfecho. As cinzas que são a base do renascer do Fénix, são a minha experiência de vida, a aprendizagem constante, que acaba por fazer de mim um ser mais absoluto.
Aos 42 anos de idade, sinto a mesma vontade de construir um castelo de Lego, de formar uma palavra com simples cubos de madeira. Após estes anos, a chave que abre a porta dos sonhos não é mais uma miragem, nem os sonhos… esses que me alimentaram o ego dia após dia. Afinal, a realidade é isso mesmo, palpável aos nossos olhos e visível, às nossas mãos.
O voo do Fénix! O renascer, junto de quem me estende as mãos e ao me olhar de frente, diz:
- Valeu a pena ter esperado. Estou aqui, no mesmo degrau. Aquele degrau onde o tempo nos colocou há tantos anos. Vamos continuar a subir?
- Vamos. Lado a lado.
- Vamos. Lado a lado.
posted by Henrique at 21:39

10/10/09
CROMUS CUNICULUS

posted by Henrique at 12:25

07/10/09
O CÃO, O GATO, O PASSÁRO, ENFIM... OS OUTROS

Infelizmente o número de animais abandonados tem vindo a aumentar. Só no ano passado foram mais de 10.000 (dez mil), segundo informação da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal. Os canis municipais que albergam os animais abandonados, há muito que ultrapassaram as suas capacidades. Resultado: Muitos animais acabam por morrer à fome ou por atropelamento.
A única forma que tenho de tocar na consciência, daqueles que já cometerem este acto cruel é desejar-lhes sorte. Sorte para que nunca os abandonem num corredor de hospital, que nunca acabem os seus dias num lar para idosos, depois de a família não os querer no conforto da sua casa, mas também, que nunca sintam fome, nem sede.
Mas não escrevo para falar de animais racionais, escrevo para apelar, para implorar a todos aqueles que antes de abandonarem um animal, pensem que estão a condenar à sua sorte os seus dias, privando-os assim do carinho e do amor que tanto deram àqueles que julgavam serem seus amigos. Pensem, sintam e se puderem, façam chegar a mensagem. Obrigado.
posted by Henrique at 01:12

01/10/09
A LUZ QUE VEM DE LONGE
Traça-se um objectivo, que julgamos ser possível atingir. Delineamos os contornos da surrealidade… como se, o que sonhamos durante dias a fio seja projectado aos nossos olhos. Os dias passam e, multiplicam-se, dissipam-se, nascem, renascem e o sonho mantém-se. Escrevem-se palavras, frases, textos e cartas, na ânsia de fazer chegar o que criámos cá dentro, esse sonho.
Lembro-me, nos meus dez anos de idade, escrever uma carta, onde eu dizia, que um dia queria ser um homem grande, como os que via a conduzir os autocarros, aqueles verdes, de dois andares. À noite, quando me deitava, encolhia-me por debaixo dos lençóis e cobertores, imaginava-me num buraco, algures num sítio inóspito, em que muita gente me procurava… e eu ali, escondido, protegido, de tudo e todos… dos maus.
Mas nunca me consegui desviar daquilo que mais me intrigava. Como é que eu seria como pessoa? Como é que os outros me veriam. Como é que seria a minha mulher e os meus filhos? Chegaria eu a velho? Passados estes anos todos, onde aprendi muita coisa e ensinei também, com base no que a vida me trouxe de bom e de mau, chego à conclusão que muito tenho para construir, ainda aos 42 anos. Alguns dos tijolos que fui cimentando, como se fossem capítulos do meu livro da memória continuam bem alicerçados, outros vão criando brechas e outros já foram removidos. Como pessoa sinto que sou diferente, por muito estranho que isso pareça, a quem ler. É a realidade.
Quantos de vós conseguirão escrever, para uma folha de papel o que sentem, o que pensam dos outros, de tudo o que nos rodeia e materializa? Eu consigo. Com muita dor, às vezes, é verdade. Uma frase pode ser o princípio de um passo dado em direcção ao desconhecido, quando o nosso coração teima em contrariar a racionalidade. Sempre pensei que o coração é que manda, é ele quem dita as leis, porque só trabalha de uma maneira, tem sempre a mesma cadência. Não falha… não pode. A outra parte, aquela que nos tenta causar constrangimentos… é o pensamento. Não é a consciência… é o pensamento.
Pensa-se que vamos pelo melhor caminho, que tomamos as melhores decisões e depois arrependemo-nos, porque não ouvimos o coração… sim, o coração. É nesta parte que durante anos lutei, procurei, pela minha outra metade, a que estava entregue à fábrica de sonhos, onde imaginamos uma ilha, a célebre ilha, em que levamos a mulher pintada por nós e esculpida no diamante mais puro. A tinta com que a pintámos desaparece ao fim dos anos, mas o valor da pedra preciosa permanece infinitamente, aqui e além.
É a luz que veio de longe, de tão longe, comigo, desde aquele dia em que estalámos os dedos e pedimos para que nos acompanhasse. E não consigo tirar os meus olhos dela, porque foi e será sempre, esse raio luminescente que me mostrará o caminho que devo seguir, sempre na direcção em que o meu coração mandar. Tenho um nome, baptizaram-me com orgulho, carinho e amor, muito mesmo. Esse amor que absorvi e guardo esteve sempre destinado aos meus descendentes. Não aconteceu. Sabem o quanto eu desejaria agarrar numa criança, num filho meu e deitar-me junto a ele, de livro aberto e ler a história escolhida para esse dia? Ver adormecer uma criança nos braços, protegida pelo amor de um pai? Correr pelo parque, atirar uma pedra para o lago e vê-la saltitar. Sabem mesmo? Não! Não sabem, porque não conseguem lá chegar. Porque isso não se consegue medir, nem pesar.
Quero que um filho meu, um dia, ao ler estes textos, que se seguem e que advirão, diga bem alto: - Um dia quero ser como o meu pai. Ficarei realizado, pela missão cumprida. Esse tijolo há-de aparecer. Onde? Não sei. Mas garanto-vos… será… com a pessoa certa. É a luz que veio de longe e me acompanha, aqui e ali, onde eu estiver.
Lembro-me, nos meus dez anos de idade, escrever uma carta, onde eu dizia, que um dia queria ser um homem grande, como os que via a conduzir os autocarros, aqueles verdes, de dois andares. À noite, quando me deitava, encolhia-me por debaixo dos lençóis e cobertores, imaginava-me num buraco, algures num sítio inóspito, em que muita gente me procurava… e eu ali, escondido, protegido, de tudo e todos… dos maus.
Mas nunca me consegui desviar daquilo que mais me intrigava. Como é que eu seria como pessoa? Como é que os outros me veriam. Como é que seria a minha mulher e os meus filhos? Chegaria eu a velho? Passados estes anos todos, onde aprendi muita coisa e ensinei também, com base no que a vida me trouxe de bom e de mau, chego à conclusão que muito tenho para construir, ainda aos 42 anos. Alguns dos tijolos que fui cimentando, como se fossem capítulos do meu livro da memória continuam bem alicerçados, outros vão criando brechas e outros já foram removidos. Como pessoa sinto que sou diferente, por muito estranho que isso pareça, a quem ler. É a realidade.
Quantos de vós conseguirão escrever, para uma folha de papel o que sentem, o que pensam dos outros, de tudo o que nos rodeia e materializa? Eu consigo. Com muita dor, às vezes, é verdade. Uma frase pode ser o princípio de um passo dado em direcção ao desconhecido, quando o nosso coração teima em contrariar a racionalidade. Sempre pensei que o coração é que manda, é ele quem dita as leis, porque só trabalha de uma maneira, tem sempre a mesma cadência. Não falha… não pode. A outra parte, aquela que nos tenta causar constrangimentos… é o pensamento. Não é a consciência… é o pensamento.
Pensa-se que vamos pelo melhor caminho, que tomamos as melhores decisões e depois arrependemo-nos, porque não ouvimos o coração… sim, o coração. É nesta parte que durante anos lutei, procurei, pela minha outra metade, a que estava entregue à fábrica de sonhos, onde imaginamos uma ilha, a célebre ilha, em que levamos a mulher pintada por nós e esculpida no diamante mais puro. A tinta com que a pintámos desaparece ao fim dos anos, mas o valor da pedra preciosa permanece infinitamente, aqui e além.
É a luz que veio de longe, de tão longe, comigo, desde aquele dia em que estalámos os dedos e pedimos para que nos acompanhasse. E não consigo tirar os meus olhos dela, porque foi e será sempre, esse raio luminescente que me mostrará o caminho que devo seguir, sempre na direcção em que o meu coração mandar. Tenho um nome, baptizaram-me com orgulho, carinho e amor, muito mesmo. Esse amor que absorvi e guardo esteve sempre destinado aos meus descendentes. Não aconteceu. Sabem o quanto eu desejaria agarrar numa criança, num filho meu e deitar-me junto a ele, de livro aberto e ler a história escolhida para esse dia? Ver adormecer uma criança nos braços, protegida pelo amor de um pai? Correr pelo parque, atirar uma pedra para o lago e vê-la saltitar. Sabem mesmo? Não! Não sabem, porque não conseguem lá chegar. Porque isso não se consegue medir, nem pesar.
Quero que um filho meu, um dia, ao ler estes textos, que se seguem e que advirão, diga bem alto: - Um dia quero ser como o meu pai. Ficarei realizado, pela missão cumprida. Esse tijolo há-de aparecer. Onde? Não sei. Mas garanto-vos… será… com a pessoa certa. É a luz que veio de longe e me acompanha, aqui e ali, onde eu estiver.
posted by Henrique at 00:59
