Dicendi

19/04/09

O SER HUMANO

O ser humano preocupa-me. Diariamente vou-me debatendo com as mais diversas vicissitudes desta máquina poderosa. Nunca consegui encontrar um modelo igual, exacto. Talvez próximo. A massa de que somos construídos é idêntica, mas nem isso nos conforta. A beleza exterior muitas vezes incompatibiliza-se com o seu oposto, o interior. E é esse que conta, de uma maneira ou de outra. Costumo dizer que a beleza exterior desvanece-se com a erosão do tempo, quando nos olhamos ao espelho ficam apenas as rédeas da memória, aquelas que seguramos para ainda considerarmos a nossa auto-estima. E para muito boa gente é essa imagem de marca que conta, que prevalece… mas se olharmos esta máquina avassaladora de uma forma mais profunda, deixando de lado a camada que nos cobre, veremos que é muito mais importante toda a engrenagem que nos projecta aos outros, a sensibilidade é uma das peças, a tolerância e compreensão são também, um mecanismo fulcral na motricidade humana entre outras similares, tão importantes para o funcionamento da “coisa” que somos.

O problema reside, não na linha de montagem, nem na fabricação em série, mas sim na distribuição. A juntar a isso temos as estradas da vida, que vamos percorrendo ao longo dos anos, muitas com curvas desniveladas, que nos fazem descambar para outras estradas secundárias, e quando chegamos a um cruzamento ficamos baralhados com tanto trânsito, que não sabemos para onde virar. Mas é aí que devemos deitar as mãos ao volante, segurá-lo firmemente e escolher o melhor caminho, porque é esse que nos vai levar ao destino, mesmo sendo desconhecido. O ser humano continua a preocupar-me. E eu faço parte dele.
posted by Henrique at 19:02

MISTÉRIO

A noite cai coberta pelo luar, que ilumina a tua janela
Uma estrela esboça um sorriso na tua direcção
Levantas os braços aos céus
O vento que enfurece os teus cabelos
Percorre-te o véu branco
Ficas tão bela
Nesse teu semblante de princesa
A tua sombra
A tua magia misteriosa embala-me
O tempo flui pelos nossos corpos
Os primeiros raios de sol batem à janela
É o amanhecer, que quer entrar
O despertar é sempre difícil
Oraste ao teu Deus secreto
Seguras as tuas lágrimas
Enquanto me apertas as mãos
Os teus lábios estendem-se num adeus
Que se presume breve
Ficas tão bela
Nessa tua imagem perfeita
De quem transparece o desejo
Gritamos por dentro, para não sermos ouvidos
Eu serei o teu sólido fundamento
Vou manter o equilíbrio
Se tu não olhares para baixo
Valeu a pena no final
Quando todas as estrelas se vão embora
Tu ainda brilhas
posted by Henrique at 19:00

16/04/09

DACHAU – Campo de Concentração


Tive muito recentemente, a possibilidade de visitar, na Alemanha, o campo de concentração em Dachau, nos subúrbios de Munique. A sensação que se apodera de nós, quando transpomos os portões é algo de indescritível. A cada passo, a cada metro percorrido, o tempo parece voltar para trás.

Documentei-me e preparei-me para o impacto. Em muitos documentos que encontrei descobri que o projecto deste campo de concentração serviu de base para outros que se seguiram. Dachau chegou a abrigar mais de duzentos mil prisioneiros de mais de trinta países e, a partir de 1941, foi usado para o extermínio de cerca de trinta mil pessoas.

Em 29 de Abril de 1945, a 42ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, com o nome Rainbow foi encarregada de libertar o campo de concentração. A partir de 1948, o campo de Dachau foi usado como campo de refugiados, situação que perdurou até cerca da década de 60, onde se erigiu o Memorial que hoje existe. Dachau é célebre não só por ter sido um dos maiores campos de concentração nazis, mas também por ter sido o primeiro a ser construído no regime hitleriano. 

Tem uma câmara de gás, apesar de constar que nunca foi usada, facto que não acredito, pelo que consta nas inscrições à entrada da câmara:

“This is where the victims were to leave their clothes before entering the gas chamber disguised as “showers”. Their clothing was to be brought to the disinfecting chambers before the next group could enter the room” - Aqui era onde as vítimas deixavam as suas roupas antes de entrarem na Câmara de gás, disfarçada de chuveiros. As suas roupas eram levadas para a câmara de desinfestação antes do próximo grupo entrar.

“This is where the victims were to be informed on using the supposed showers” - Aqui era onde as vítimas eram informadas sobre a utilização dos supostos chuveiros.

“This is where the dead were to be brought before they were cremated“ - Aqui era para onde os mortos eram trazidos antes de serem cremados.

Penso que estas frases não nos deixam dúvidas quanto à utilização da câmara de gás. Numa outra ala do campo de concentração situa-se o Crematório. Nunca fiquei tanto tempo a olhar para um simples forno. Todas as imagens que passaram na minha cabeça terminavam ali, reduzidas a cinzas. Os inocentes, os que fugiam à espécie, os que fisicamente não correspondiam aos parâmetros arianos, todos acabavam naquele lugar.

Recuso-me a aceitar a humanidade desta forma. Nos dias de hoje mantêm-se as marcas que o tempo ousou em não apagar, os cravos criteriosamente colocados na pedra da camarata n.º 21 são a prova de quem viveu ou conheceu alguém que passou por aquelas paredes. O que um semelhante pode e consegue fazer a outro é realmente espantoso. Ainda bem que estes lugares não foram apagados da história. Louvo a atitude da Alemanha em manter vivos e acessíveis todos estes locais, para que possamos ter tempo, para pensar e repensar o valor que tem a vida de um homem, de uma mulher… de uma criança.

Entrar num campo de concentração, não é como entrar em Alcatraz (São Francisco - Califórnia) e observar as celas onde estiveram alojados alguns dos maiores criminosos norte-americanos, como Al Capone, Robert Franklin Stroud.

Entrar num campo de concentração é tentar descobrir o porquê de ter de morrer à fome, queimado ou nas câmaras de gás, só por ter nascido de forma diferente, com olhos de outra cor, com ideologias diferentes ou mesmo até, por antipatia mas… atenção… estamos no Sec. XXI e ainda temos disso… infelizmente.
posted by Henrique at 23:30

01/04/09

IN TEMPORE II

Ontem foi e será a história, que o tempo escreveu
Palavras, cujo significado ninguém sabe
No momento em que as deixas escapar
escreves mais uma frase, mais uma sentença
Hoje lembras-te com ternura, do que aconteceu
É com um sorriso e a alegria, que te são peculiares
que exaltas em mim, a saudade
a esperança, de te alcançar
O amanhã não será diferente, se quisermos
Continuarás sempre sublime e afectiva
nesse teu jeito de amar
É essa glória que temos
Nos caminhos da vida
Que juntos iremos abraçar
posted by Henrique at 01:34