Dicendi

26/06/09

ERA UMA VEZ O MICHAEL JACKSON

Michael Jackson morreu a 25 de Junho de 2009, ao que tudo indica, motivado por um ataque cardíaco. A polícia de Los Angeles (LAPD) procedeu de imediato às investigações, para apurar em que condições é que o Rei da Pop music tinha falecido. Até aqui, tudo me parece normal, o homem era americano, uma referência na música internacional, por isso, uma personagem mediática nos quatro cantos do mundo. O que me parece pouco normal é, em Portugal, haver tanta gente consternada, não que o artista não mereça, mas parece-me demasiado tanto choro e angústia. Que a Madonna, a Cher, o Quincy Jones, entre outros colossos da música Pop e som Motown Records se alaguem em lágrimas, para não falar dos amigos mais próximos e família, até aceito, agora o vulgo, o desconhecido, o cidadão que nunca se achou perdido nem achado, se manifeste publicamente num pranto é que já me parece uma tendência para a calamidade.

Afinal, o Michael Jackson era apenas mais um artista musical, que se destacou pelo melhor e, pelo pior. Um tipo que nasce negro e insiste em se tornar branco... ok... normal... mas um tipo que diz que a coisa mais maravilhosa do mundo é partilhar a cama com alguém, e esse alguém ser uma criança, a mesma criança que mais tarde o acusou de ter sido abusada sexualmente, é que me deixa baralhado. Os tribunais absolveram-no, não sei como, porque desconheço o processo... Depois, o negro que se tornou branco, numa janela de um hotel, puxa de um bebé, o seu filho, e mostra-o aos seus fãs, segurando-o nos braços, tipo marionete... lindo de se ver... os fãs vibravam com mais uma atitude do seu ídolo.

Os canais de televisão americanos noticiaram que a polícia de Los Angeles tinha apreendido o carro do médico pessoal de Michael Jackson, por suspeitarem que esse médico possa ter administrado uma dose exagerada de morfina, precipitando assim, o ataque cardíaco ao malogrado artista... enfim... Eu esforço-me, mas não chego lá. Então o Michael Jackson, que tinha calendarizado 50 espectáculos em Londres, ia apresentar-se em palco movido a morfina?

Os fãs pagavam um bilhete a peso de ouro para ver um branco que foi negro a fazer uns moonwalkers alimentado a morfina? Ok... parece que ele deixou uma dívida de mais de 500 milhões de dólares... Ok... como é o Michael Jackson até se acha o máximo, afinal a excentricidade é que coloca os artistas no topo da popularidade... coitadinha da Amy Winehouse, que até canta bem, mas como costuma aparecer em palco com uma taça de vinho e umas injecções nas veias já não merece uma palavrinha de apoio. Nem uma lágrima?

Bom, não há dúvida, o Michael Jackson morreu e é chorado em todo o mundo, Portugal também não escapou, como pude ver na TVI, um jovem manifestando a sua tristeza, envergando uma T-Shirt dos Iron Maiden, a versatilidade musical é um fenómeno que arrasta multidões. Na rádio, o fundador do Clube de Fãs em Portugal estava consternadíssimo. Eu só peço a Deus que mantenha vivo o Tony Carreira por muitos anos, senão é o dilúvio total. Michael Jackson vendeu milhões, o álbum Thriller vendeu mais de 100 milhões de discos, na altura toda a gente comprava, ninguém sacava da Internet, mas reconheço as suas capacidades artísticas e tudo o que fez pela música. Não esqueço o Live Aid. Coitada da Farrah Fawcett, que faleceu no mesmo dia. Ninguém deu por ela. Eu também via os Anjos de Charlie.

Os homens erram, caem e levantam-se, Michael Jackson apenas não teve tempo suficiente para se erguer, de novo. Não teve a inteligência suficiente para contornar todos os que o usaram, enganaram e se aproveitaram dele. Por tudo o que Michael Jackson fez no meio artístico, pelo seu talento, pelas suas músicas, que cresceram comigo na adolescência, pelas causas que defendeu e ajudou... também lamento a sua morte. DESCANSA EM PAZ.
posted by Henrique at 23:00

08/06/09

ONDE PÁRA A SENSIBILIDADE?

Tantas, mas já foram tantas as vezes, que me deparei com este obstáculo, que teima em perseguir-me. A dificuldade em perceber o que move os outros, quando deixam resvalar a capa que os esconde. Confesso que por vezes sinto-me perdido na minha ignorância, tento relegá-la para segundo plano, não lhe dando a importância que pretende, mas é com uma misantropia extrema que não a consigo dissociar. Gosto de perceber… pelo menos tentar. Muitas vezes sinto-me ignorado e incompreendido, mesmo sabendo eu o potencial das minhas capacidades, o limite da minha inteligência, vejo-me obrigado a ficar calado, para não me sentir humilhado, melhor… para que não deixe que o consigam. Faço parte daquelas pessoas (espero que seja um grupo pequeno… espero mesmo) que os outros acham, que somos limitados intelectualmente e, ou que não temos capacidade para os acompanhar na sua inteligência e ambição (é verdade… esta malta existe). Conheço algumas pessoas (até já tenho medo que isto seja alguma epidemia), que quando se encontram, só falam da vida dos outros, chupando-os até ao osso, depois de lhes terem devorado a carne até ao último tendão. Convidam essas pessoas para jantar em sua casa, para mais tarde terem matéria crime para debater, em circuito fechado. Falam de negócios, estratégias empresariais, parcerias (é hilariante observar). Às vezes somos quatro sentados na mesa do restaurante, sim… somos quatro, mas só falam três, o outro sou eu (o limitado intelectualmente) que normalmente me atavio em casa de literatura vasta, previamente escolhida. A parte mais engraçada é que quando tentamos inserir-nos nos temas ou na conversa, somos ignorados (a tal falta de intelecto), mas se tentarmos apanhar um dos três, que se encontram sentados, disponível, para falarmos de outra coisa qualquer, somos alvos de uma atenção quase talhada à altura da Mossad ou do MI6. Obviamente para sermos logo bombardeados com sobranceria ou desprezo altivo (dá-me vontade de rir nestas alturas). Como os conheço bem (julgo eu) e conheço as suas raízes e proveniências fico pasmado com a falta de visão (como a sensibilidade não existe) para se verem ao espelho. Tenho o maior respeito por todos aqueles que vierem das suas terras, que através de sacrifícios, mandaram calar a pobreza, a futilidade e que hoje são pessoas bem sucedidas, porque sabem de onde vieram e como chegaram. Os outros, aqueles que vieram dos mesmos locais e que subiram na vida (este subir é subjectivo) à custa de estarem bem “encostados” ou de terem apoios quando abrem a boca, bem, para esses, vai o meu sorriso, oculto, acompanhado de uma fotografia cerebral. A parte mais hilariante de tudo isto, é que os que me julgam limitado (têm as suas razões) desconhecem o que escrevo, este meu lado oculto, que guardo para mim e partilho convosco, que não vos conheço. Uma das vantagens de gostarmos de escrever, bem ou mal, é a de podermos passar para uma folha de papel aquilo que os outros (os que me limitam) vão levar uma vida inteira para aprender a fazer. Se calhar, se lessem o que escrevo, do que sou capaz, poder-se-iam sentir melindrados, ou não... às vezes ainda se agigantam mais (deixem-nos estar assim, confiantes de si próprios). Por isso meus amigos, gosto muito de estar ao meu lado e falar comigo próprio, analisando sempre até onde vai a sensibilidade dos outros, porque a minha sei onde pára, mas isso só está ao alcance de poucos, dos que se deixam limitar para não ferir susceptibilidades e não cortar as pernas aos que ainda vão levar tanta pancada pela vida que vão ter pela frente. A foto que escolhi não foi por acaso, é que às vezes podíamos aprender com eles.
posted by Henrique at 15:32