Dicendi

19/05/09

EXPERIÊNCIA GÉLIDA

Não foi apenas mais uma viagem, foi uma deslocação à neve, por cinco dias. À partida estava um pouco na expectativa. Uma semana rodeado sempre da mesma cor parecia-me estranho. Comecei por tentar encontrar as diferenças entre uma cordilheira nevada e uma estância balnear, algures nas Caraíbas. Cheguei à conclusão que podemos gostar de ambas as coisas, por vários motivos. Um deles é aquela sensação de nos sentirmos a milhas terrestres para um lado e náuticas para o outro. Outro dos motivos, e muito importante este, é que também nos podemos bronzear nos Pirinéus. E de uma forma intensa. Em vez de levarmos para a praia a cadeira, o garrafão, o chapéu-de-sol e o balde, levamos dois batons (não são esses que estão a pensar) um par de skis e mais outra coisa qualquer que tencionamos por lá deixar, perdida num sítio qualquer.

À chegada temos sempre aquele receio, de que somos a única pessoa que não se consegue meter de pé em cima de duas réguas estranhas, já para não falar nas belas botas que me faziam lembrar Neil Armstrong no seu passeio alucinante por terras nunca dantes pisadas. Mas essa ideia é logo desvanecida quando, afinal, somos apenas mais um dos que anda ali a fazer figura de inepto. Mas é aí que as coisas mudam de cenário. Quando passamos as primeiras 48 horas de sufrágio já ninguém nos agarra. É tudo nosso... o espaço à nossa frente... a montanha, os vales, enfim, o único obstáculo que não conseguimos passar com os skies por cima é o forfait. Se pensam que vou dizer às pessoas que sou um "nabo" a esquiar desenganem-se. Para os que nunca esquiaram sou um ás, os outros, aqueles que dominam a arte das tábuas em paralelas sou apenas um tipo esquecido dos seus tempos aúreos.

Mas esta experiência começou com uma dúvida sazonal e garanto-vos, que a única diferença é que onde se faz praia, dificilmente se poderá pensar em neve, e onde se pisa o gelo, raramente se fazem castelos de areia. Mas ambas são demasiadamente fabulosas.
posted by Henrique at 19:01

04/05/09

MARRAKECH - O Tapete

Cheguei a Casablanca às 17h11 (hora local), após um voo com uma turbulência a fazer lembrar o célebre Titanic, não por ter colidido com um iceberg, mas pela sensação de me ver ir a pique várias vezes. Pensei... - Ok! Henrique... vais realizar o teu sonho. Já que tenho de morrer um dia, que seja a voar.

Ainda no aeroporto em Lisboa, apercebi-me de alguns passageiros soltarem umas risadas, quando viram o avião que nos levaria ao destino. Mal sabiam o que lhes esperava. Ao fim de meia hora de voo, já metade deles se encontrava com uma mão no saco de plástico e outra a agarrar fortemente o banco da frente. Nunca cheguei a entender porque é que tinhamos de fazer 3h30 num Beechcraft 1900D até Casablanca e depois... bem, depois fazer 40 minutos num Boeing 737-800 até Marrakech.


Bom... já tenho umas boas horas de voo, mas nunca tinha voado num avião a hélice num voo intercontinental. Sim, intercontinental, porque Casablanca fica em África.

O aeroporto de Casablanca mostra-se interessante à chegada, mas rapidamente se esgotam as opções. Poucas lojas, o atendimento aos passageiros em trânsito carece de melhorias significativas, sobretudo quando se tem de esperar seis horas por uma ligação aérea de 40 minutos até Marrakech.

Mas para um aeroporto internacional, ter um café onde se pode comer um prato de arroz com uma perna de frango, até que nem está mal, o pior é que café não existe.

Marrakech é diferente, também não tem café no aeroporto, mas podemos sempre comprar num quiosque, um íman para pregar no frigorífico. Comprei um com o cartaz do filme Casablanca. Tinha tudo a ver.

No primeiro dia na cidade aventurei-me pelas ruas estreitas da Medina, tipo cão vadio que anda... anda e nunca sabe onde vai ter. Bem... tive sorte, um marroquino abordou-me numa rua com dois metros de largura, onde circulam carros e motos a velocidades esmagadoras. Fiquei sensibilizado por o homem ter sido tão prestável... viu que eu andava por ali às voltas ou redundâncias cíclicas, e ofereceu-se para ser o meu guia e levar-me aos tanques das tinturarias, para eu tirar uma foto. Uauuu!!!! Pensei para mim.

Para eu fotografar as tinturarias, pelo menos aquela, entrei por um armazém de tapetes, onde fui dar a uma varanda com vista parcial para umas casas em barro. Resultado: Tirei três fotos e espetaram-me com um tapete de 400 euros. Guia, pensava eu... pois... Ainda por cima o suposto guia recebeu a comissão de me ter lá levado, à minha frente!

Fui para o hotel com o tapete num lado e sem 400 euros noutro. Lindo!! Ainda pensei vender o tapete por lá, mas era impossível, face à concorrência local.

posted by Henrique at 21:50